O Boletim Econômico de abril apresenta as últimas análises sobre o COVID-19 na economia e traz como especialista convidada Eduarda La Rocque

Eduarda La Rocque é economista-chefe do Banestes, escritora, gestora pública, conselheira, palestrante e professora. É fundadora do Pacto do Rio e do Fórum de Sustentabilidade do Rio - Acordos pela Metrópole.  Ela é a especialista convidada para o assunto em destaque do Boletim Econômico Capixaba de abril.

Um pacto pela prosperidade do Espírito Santo

O abalo socioeconômico causado pela pandemia mostrou para a comunidade internacional a importância de valorizar a vida humana no planejamento da economia. Segundo o FMI, as políticas eficazes são fundamentais para prevenir resultados piores. No curto prazo, as medidas de contenção do contágio afetarão a atividade econômica, mas devem ser vistas como um investimento imprescindível à saúde humana e economia a longo prazo.

Contexto Econômico e Social no Espírito Santo

São muitos os desafios do Estado, principalmente aqueles ligados à melhoria de qualidade de vida dos mais vulneráveis, o enfrentamento à pobreza e aos mais diversos tipos de desigualdades. Mas o fato de ser o único Estado avaliado com nota A pelo Tesouro Nacional desde 2012 e um atual governo comprometido com a responsabilidade fiscal e com a redução das desigualdades sociais e regionais faz com que surja a esperança de um caso de sucesso real de desenvolvimento sustentável e inclusivo no país.

A arrecadação do Estado vem sofrendo com a crise, mas o Estado tem pelo menos duas importantes vantagens para não só enfrentá-la como ter uma forte e rápida recuperação. A primeira é um alto nível de “capital cívico” e a segunda, uma enorme capacidade de endividamento do Estado. O ES fechou 2019 com um endividamento líquido de cerca de 14% sobre a Receita corrente líquida, quando o limite é de 200%. É claro que o amplo espaço para os novos investimentos deve ser ocupado por projetos rentáveis, que gerem receita para o governo no futuro. Temos que pensar na sustentabilidade a longo prazo de cada um dos entes federativos.

A boa situação fiscal e os investimentos públicos e privados já programados no estado antes da crise dão ao Espírito Santo uma situação diferenciada para retomar em breve o desenvolvimento sustentável, o que já havia se refletido no índice de competitividade calculado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) - em cujo ranking do final do ano passado o estado subiu duas posições. É um momento propício para um ciclo virtuoso de crescimento, uma espécie de “crowding in” fiscal - investimento público fortalecendo investimento privado para aumentar a complexidade da nossa economia e o desenvolvimento regional baseado na agricultura familiar e economia criativa - turismo, cultura, inovação e tecnologia. Cabe destacar o potencial de um mercado de capitais forte, voltado para o mercado de acesso, de commodities e também causas socioambientais. Esta é uma proposta que começa a se configurar como possível com a rede de solidariedade que se espalha com o coronavírus.

O mundo pós vírus: a proposta para REALMAR a economia

O Papa Francisco promoverá em novembro, em Assis, um encontro entre jovens economistas visando firmar um pacto para RE-ALMAR a economia. Não se trata de uma visão religiosa ou assistencialista, foi abraçado pela academia - no encontro estarão ganhadores do prêmio Nobel como Joseph Stiglitz, Yunus Muhammad e Amartya Sen.

Uma proposta para a economia de Francisco seria a inclusão dos mais pobres na economia e na cidadania através de um modelo de desenvolvimento territorial baseado no conceito de prosperidade. Integrar as políticas públicas nos territórios de uma forma participativa é o único caminho viável para o desenvolvimento sustentável, que requer um processo de melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, principalmente para os mais vulneráveis, e mantendo o respeito ao meio ambiente e às instituições.

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A pandemia do COVID-19

Os casos de contaminação pelo COVID-19 avançaram sobre o mês de abril. Desde o início da pandemia, o número de casos confirmados de pessoas infectadas pelo COVID-19 ultrapassou 3,2 milhões no mundo. No Brasil são 78.162 casos confirmados e 5.466 óbitos, até o dia 29 de abril.

As medidas de distanciamento social e de restrição ao funcionamento de algumas atividades econômicas ainda foram a realidade predominante, embora algumas localidades já comecem a anunciar planos de flexibilização baseados em variáveis como: queda na velocidade da transmissão, redução da taxa de contaminação por habitantes e ampliação da capacidade do sistema de saúde.

Os impactos na economia

Abril também consolidou um forte movimento de revisões de expectativa sobre a economia mundial para 2020. As principais instituições internacionais, bancos e consultorias apontam para uma recessão global (-3,0%, segundo o FMI) neste ano, com tendência de recuperação em V, ou seja, com forte retomada da atividade em 2021 (o FMI prevê que o mundo cresça 5,8% no próximo ano).

Para o Brasil, um roteiro volta a se repetir: as expectativas do início do ano por um melhor crescimento do PIB nacional findarão frustradas, mais uma vez. Neste ano um evento externo de magnitude inimaginável é o grande responsável pela revisão das expectativas. O resultado final não será nem mesmo um modesto crescimento de cerca de 1,0% do PIB, como aconteceu nos últimos três anos, mas sim uma violenta retração que já é prevista em -5,3% segundo o FMI. O Boletim Focus do Banco Central projeta queda de -3,34% no PIB, já na sua 11ª semana seguida de revisão para baixo, que não deve parar por aí.

A inflação segue com comportamento estável no Brasil, com 3,30% no acumulado em 12 meses até março. Os últimos resultados das pesquisas setoriais do IBGE mostraram o comércio e os serviços com crescimento nos dois primeiros meses do ano, tanto no Brasil quanto no Espírito Santo, enquanto a indústria permaneceu com queda na produção física, o que, no caso capixaba, puxa o índice de atividade econômica estadual para o campo negativo. Por serem resultados de fevereiro, do momento pré-pandemia, esses indicadores ainda não refletem os impactos da crise nos setores e na economia como um todo. É provável que os próximos resultados das pesquisas referentes ao mês de março já comecem a revelar a trajetória de queda dos indicadores.

As crises políticas

Para além dos imensos desafios da saúde pública e da economia, no campo político o Brasil enfrentou um mês de abril muito conturbado. Marcado em seu início por uma polarização política pró distanciamento social versus pró flexibilização das medidas, o país esteve diante de uma guerra de narrativas, inclusive por parte de autoridades, que pouco ajudava e muito confundia a população. O desenrolar dos fatos culminou na queda do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril.

O clima piorou com as desavenças públicas entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Em meio a tudo isso, a Câmara aprovou um controverso projeto de ajuda da União aos estados e municípios, que ainda deverá passar pelo Senado, mas que criou preocupação para analistas econômicos e a equipe do ministro Paulo Guedes.

Por fim, mas não menos importante, no dia 24 de abril foi a vez do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, entregar o cargo e deixar o Governo Federal, fragilizando sua base de apoio e fazendo fortes acusações contra o presidente da República, que ainda deverão repercutir na vida política do país.

Em um momento em que a discussão das soluções emergenciais de combate à pandemia e à crise econômica ganham ainda mais relevância no Congresso, bem como a importância das reformas estruturantes pós-pandemia deverá se tornar ainda maior e mais urgente, as crises políticas e a deterioração da relação entre os três poderes tendem a ser mais um empecilho para o encaminhamento dos grandes problemas brasileiros.

      O Boletim Econômico Capixaba é uma publicação mensal do Ideies sobre a conjuntura econômica do Espírito Santo e do Brasil. 

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Sobre o(a) editor(a) e outras publicações de sua autoria

Rodrigo Taveira

Economista (UFES) e Mestre em Administração Pública e Governo (FGV-SP). Atua como Analista de Estudos e Pesquisa Sênior na Gerência de Estudos Econômicos, com foco em estudos sobre conjuntura econômica, finanças públicas e crédito.